A vida passa-nos a alta velocidade, como um comboio que aleatoriamente
para numa estação ou apeadeiro. Mas a maior parte do tempo apenas vemos passar
a paisagem, fragmentos de vidas que se cruzam com a voracidade do tempo.
Umas marcam-nos, outras passam completamente despercebidas,
como se não existissem, um vazio de dias e dias nesta colecção de imagens
subliminares.
E nós, nós vamos andando, sentados no conforto do nosso
banco do comboio, vendo ou apenas olhando o que passa.
Por vezes temos momentos em que nos apetece que o comboio
pare, que nos deixe saltar e aproveitar aquela paisagem, aquele momento único e
irrepetível que nos é oferecido como que por mero acaso. Mas a maior parte do
tempo, deixamos o comboio correr e nós, nós dentro dele, alheados ao que nos
rodeia.
Dormitamos ao som rotineiro dos carris pisados pelo peso
enorme do comboio, da vida, e deixamo-nos ir…deixamo-nos embalar numa letargia
cómoda dos dias iguais, dos dias sem história aparente.
Compramos um bilhete com destino traçado e nem nos atrevemos
a mudar o mesmo, a parar e sair, aproveitar, viver outra coisa que não seja
aquele destino pré-adquirido à anos atrás.
O bilhete que guardamos diz-nos o destino, dita-nos as
regras, contudo elas existem para ser quebradas, sempre que algo, sempre que alguém
nos assoma à janela do comboio e sentimos a curiosidade do novo, do desconhecido.
Pensamos por vezes como seria se o bilhete tivesse outro nome escrito, outro
destino diferente e ousamos sonhar, mas depressa o comboio corre para outro
lugar e aquele, aquele que sonhámos fugazmente viver ficou lá atrás na viagem
sem retorno.
Depois, depois apercebemo-nos que chegamos ao fim da linha...
1 comentário:
Não compres bilhetes.
Vai simplesmente.
Quando e onde te apetecer.
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