domingo, maio 23, 2010

Vagas...

Embarco sozinho neste corpo,
Um corpo cheio de nada e tanta coisa,
Bens preciosos ou restos de zero,
Corpo que vagueia, farol solitário.
Embarco nesta vida,
Vida de sofrer, de amar e morrer,
Flutuo no vazio, no vácuo,
Incendeio-me como fogo-fátuo
Morte atroz ou solução?
Sofrimento ou ilusão?
Deixa-me aqui
Neste corpo onde embarquei,
E sem leme, vagueei à deriva,
Do sentir e de criar,
Do sorrir e de chorar,
Sem nunca (me) encontrar,
Nem afundar,
Sobrevivo, flutuo...
Ao sabor das vagas do mundo.

quinta-feira, maio 13, 2010

Livro de Cabeceira XII

Mais um livro de David Soares, mais uma excelente peça literária que combina história e ficção.
Evangelho do Enforcado conta-nos a história de Nuno Gonçalves, nascido pobre mas com o dom sobrenatural para a pintura, vive entre a vontade de vencer na vida e os seus monstros internos que o "obrigam" a matar para se satisfazer.
Nuno Gonçalves é o suposto autor de uma das obras de arte mais enigmáticas existentes em Portugal - os chamados Painéis de S. Vicente, expostos no Museu Nacional de Arte Antiga - cuja encomenda pelo Regente D. Pedro, visa enaltecer o martírio do seu irmão D. Fernando, aprisionado e posteriormente morto na cruzada falhada contra Tânger. Só que a visão peculiar de Nuno Gonçalves deturpa toda a intenção do Regente e cria uma obra polémica e brilhante ao mesmo tempo.
O livro retrata de forma pungente a sede de poder e as intrigas palacianas numa Lisboa medieval, bem como faz uma viagem esclarecida ao mundo da pintura e da psicopatologia que atormenta o personagem principal, fazendo mais uma vez a ponte entre realidade e ficção, entre profano e sagrado, mostrando ao comum mortal a riqueza simbólica e esotérica do nosso Portugal.
Aconselho vivamente...

segunda-feira, maio 10, 2010

Solidão...

Solitário, sempre solitário...
Profundo, dormente.
Respiro e sinto o mal,
A magia, a dor final.
O vício que tende a vencer,
A dor que teima em ficar.

De que vale sentir,
Quando não sentimos o que queremos?