domingo, maio 01, 2016

O comboio


A vida passa-nos a alta velocidade, como um comboio que aleatoriamente para numa estação ou apeadeiro. Mas a maior parte do tempo apenas vemos passar a paisagem, fragmentos de vidas que se cruzam com a voracidade do tempo.
Umas marcam-nos, outras passam completamente despercebidas, como se não existissem, um vazio de dias e dias nesta colecção de imagens subliminares.
E nós, nós vamos andando, sentados no conforto do nosso banco do comboio, vendo ou apenas olhando o que passa.
Por vezes temos momentos em que nos apetece que o comboio pare, que nos deixe saltar e aproveitar aquela paisagem, aquele momento único e irrepetível que nos é oferecido como que por mero acaso. Mas a maior parte do tempo, deixamos o comboio correr e nós, nós dentro dele, alheados ao que nos rodeia.
Dormitamos ao som rotineiro dos carris pisados pelo peso enorme do comboio, da vida, e deixamo-nos ir…deixamo-nos embalar numa letargia cómoda dos dias iguais, dos dias sem história aparente.
Compramos um bilhete com destino traçado e nem nos atrevemos a mudar o mesmo, a parar e sair, aproveitar, viver outra coisa que não seja aquele destino pré-adquirido à anos atrás.

O bilhete que guardamos diz-nos o destino, dita-nos as regras, contudo elas existem para ser quebradas, sempre que algo, sempre que alguém nos assoma à janela do comboio e sentimos a curiosidade do novo, do desconhecido. Pensamos por vezes como seria se o bilhete tivesse outro nome escrito, outro destino diferente e ousamos sonhar, mas depressa o comboio corre para outro lugar e aquele, aquele que sonhámos fugazmente viver ficou lá atrás na viagem sem retorno.

Depois, depois apercebemo-nos que chegamos ao fim da linha...