sábado, outubro 31, 2009

Samhaim





Porque hoje é o Samhain, deixo-vos aqui as fotos de um cemitério do século XIX, abandonado, em Sanfins - Valença, próximo das ruínas do misterioso mosteiro com o mesmo nome.
Resistem apenas umas quantas lápides centenárias, a capela funerária e uma coluna ao centro.
Tiradas ao anoitecer, no meio da floresta, longe da aldeia, no silêncio... senti um arrepio, confesso.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Druídas

Este foi mais um dos trilhos que fiz durante a estada na Peneda.
Partindo da aldeia de Tibo, inicia-se a descida ao vale do rio Pomba, uma das fronteiras naturais entre Portugal e a Galiza. O vale já de si tem uma paisagem bastante agradável, mas o mais surpreendente é o que se esconde a cerca de 4 quilometros da aldeia...



Vale do Rio Pomba

Simplesmente aproveitar os sons da natureza...
Chegando à margem do rio, encontra-se uma clareira rodeada de carvalhos. Esta clareira tem diversos vestigios de utilização continuada, com a existência de vários locais de fogueiras, mas tudo muito limpo, sem qualquer lixo ou corpo estranho à natureza.
Nesta clareira acampam regularmente estudantes vindos da (ainda) distante Universidade de Santiago de Compostela, que aqui vêm propositadamente para iniciar "irmãos" na mística druídica, na comunhão com a natureza e com a magia milenar das coisas simples.
Este local guarda em si mesmo duas das entidades mais importantes para os seguidores da ancestral cultura druídica: é rodeado de Carvalhos, a árvore da sabedoria e da cultura por excelência para os celtas - o termo Druída provém da lingua celta e traduz-se como "aquele(a) que tem o conhecimento do carvalho"; encontra-se à beira rio, ou seja, junto à fonte de toda a vida, a Água. Esta feliz coincidência, cedo chamou a atenção de amantes desta crença.



Clareira dos Druídas

Após passar esta clareira iniciática e com uma forte mistica, chega-se, depois de passar pelo interior de uma rocha, ao local conhecido como a piscina dos druídas, várias lagoas formadas pelo rio, de uma pureza dificil de imaginar hoje em dia, onde existem pelo menos dois símbolos gravados na pedra ali deixados por antepassados, uma cruz templária e um peixe (símbolo dos primeiros cristãos). Se outros indícios não existissem, estes eram fortes o suficiente para me deixar com a suspeita que este local é utilizado para rituais iniciáticos e "baptismos" pré-cristãos.


Passagem para a piscina dos Druídas




cruz gravada na rocha



peixe gravado (o angulo não é o melhor, mas não me apeteceu ir ao banho)

Apesar de distar apenas 4 quilometros da aldeia, este local é bastante isolado e resguardado de olhares alheios. A sua envolvente, água, pedras enormes, árvores centenárias e nobres decerto agradou quem segue os ritos da mãe natureza. O facto de com meia dúzia de passos por cima dos seixos, estarmos em território Galego, ou seja, uma fronteira natural e legal, potencia a zona como iniciática.

pormenor de uma das "piscinas"
Garanto-vos uma coisa, não foi a paisagem mais bonita que já vi, mas foi dos lugares mais místicos e pacificadores onde estive...

sábado, outubro 17, 2009

P'las serranias arriba...

Precurso ao chegar ao Fojo do Lobo


Extensão dos muros do Fojo do Lobo
Zona do Poço do Fojo
Poço ao fundo

Cardenhas
Uma pequena marca de fé, nos momentos de solidão
Depois do texto inspirado(?) nesta viagem, deixo-vos algumas das fotos tiradas pelas terras altas de Portugal.
Estas são de uma das caminhadas que fiz, cerca de 7 km a subir por caminhos de cabras a mil e poucos metros de altura para, além da paisagem cortante, visitar um nucleo de abrigos de pastores e de gado, dizem mais velho que a nação e o fojo do lobo.
Os abrigos, conhecidos na zona como Cardenhas, conjunto de casas-abrigo, construidas ao estilo celta, segundo consta, anteriores à criação de Portugal e por vezes ainda usadas. Impressiona o número (mais de 20), o local onde se encontram - um planalto abrigado, no topo da serra - e o isolamento e paz que se vive por lá, num mundo de verde e pedra, onde os séculos parecem voltar atrás.

O fojo do lobo é uma construção rude que impressiona pela grandeza e pela crueldade. Trata-se de dois muros em pedra com quilometros de extensão cada um, que convergem para um poço seco. Esta construção servia para caçar lobos, foiutilizada pelas populações durante séculos como a única arma dos pastores contra os predadores do seu gado. Actualmente acho desumano, mas não nos podemos esquecer do isolamento e das dificuldades destas povoações perdidas, cuja unica riqueza eram as suas cabeças de gado. juntavam-se aos milhares, vindos de todas as aldeias, com tachos, ferros e pedras para produzir ruido e afugentar o lobo para aquela zona e assim encurralar o animal, acabando com a sua morte...

domingo, outubro 11, 2009

Vidas escondidas

Das fontes e regatos milenares,
Das aguas sempre renovadas
Em eterna passagem pelas pontes ancestrais
Dos murmúrios e ladainhas de anciãos
Ali se preservam as almas escondidas
Os votos velados de tradição

As matas imutáveis que nos abraçam,
O nevoeiro místico que me guarda ao cair da noite
Os uivos dos lobos perdidos, as velhas magias e poções
Tudo me regenera, tudo me atrai…

Não sinto medo, sinto respeito,
Não me assustam, fascinam-me,
Fazem-me procurar mais, ver para além do óbvio,
E imaginar os tempos antigos, a escuridão, o isolamento,
Os mitos, as lendas que perduram nas mentes fechadas…
Porque assim aprenderam, porque assim teve de ser

A civilização não os entende, chamam-lhes loucos
Estranhos, excêntricos e pobres de espírito.
Exactamente o contrário, mulheres e homens talhados
Na pedra e nas serranias que os rodeiam,
Seres em comunhão com os mistérios da terra.

O garrano livre que pasta, o predador que mata para ser,
E o homem aprende a (sobre) viver neste mundo que não é dele…