quarta-feira, novembro 14, 2012

Para ti Avó...


Maria da Assunção de Jesus
 
30/01/1927 - 12/11/2012

Partiste... partiste finalmente após anos de sofrimento e ausência mental.
Resististe a tanto e surpreendeste quando todos pensavamos que nos abandonavas antes do teu marido.
Tinhas uma forma muito especial de ver o tempo passar e lutavas contra ele. Teimavas em fugir ao passar dos anos e tentavas a todo o custo enganar a idade.
Vaidosa, "velha gaiteira" como te chamava às vezes, foste uma mulher das antigas, sempre com a trouxa atrás, para onde quer que mandassem o teu Cabo Valente de serviço, lá seguias tu e as tuas filhas.
 
Descansa agora que podes, nós cá vamos também descansar e sorrir ao lembrarmos estes avós que temos...temos sim, porque as pessoas não desaparecem quando morrem, apenas desaparecem quando nos esquecemos delas...
 
Um beijo avó...

quarta-feira, novembro 07, 2012

Mar de Chumbo

 
Aqui, neste mar de chumbo,
selado do mundo, isolado de ti,
sono perpétuo de mágoas tais,
câmara escura de horrores viscerais,
 
Suor e sangue, sabor a sal deste oceano escurecido,
numa penumbra deslumbrante da tarde de Outono,
escorrego para o âmago em ruínas,
casa tombada, lar desfeito,
Sei o sabor da perda,
Já não me lembro do sabor da vitória...

terça-feira, novembro 06, 2012

Nota explicativa

É oficial: Fartei-me que confundam os desenhos e frases que tenho tatuados em mim, com significados e simbolos que nada têm a ver comigo!

Portanto aqui fica para quem quiser saber:

A árvore retorcida, quase sem folhas, acrescentada recentemente com mais ramagens (braço e ombro direito): Sempre gostei de árvores e quanto mais castigadas pela vida melhor. Esta simboliza um carvalho milenar, resistente ao tempo, simbolo de força e sabedoria celta que ainda hoje é respeitada em certos recantos do nosso país;

O Corvo (nas ramagens da árvore) : Ave muitas vezes ligada ao azar, para mim é um simbolo de noite e oculto; guardião de almas secretas e mistério;

Non Omnis Moriar (no braço esquerdo) : Não morrerei inteiramente - É a minha crença, um pouco utópica talvez, que enquanto formos lembrados, nunca morreremos por completo;

Alcachofra (no antebraço esquerdo) : simbolo alquimico do renascer, da vida para além da morte. Pode ser vista como adorno arquitectónico em vários monumentos sobretudo de influência maçónica, como nos muros da Quinta da Regaleira em Sintra ou no topo do Cais das Colunas em Lisboa, simboliza a passagem do profano ao sagrado, a iniciação;

O sol negro (no peito sobre o lado esquerdo): Simbolo do culto ancestral ao deus sol e aos cultos celtas dos astros. Podem até levar para o lado da extrema-direita e do III reich, não o fiz com esse sentido;

"Porque os outros tem medo mas tu não..." (nas costas, entre as omoplatas) -  Frase retirada do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen "Porque os outros se mascaram mas tu não": Um poema com bastante poder e cuja frase que escolhi personifica uma intenção, não recear  as adversidades, as lutas da vida.

Cruz Celta (na perna direita) - Simbolo de crença numa religião mais próxima da natureza tal como era o catolicismo nos primórdios na zona outrora dominada pelas tribos celtas, obrigada a adaptar-se aos cultos ancestrais para conquistar as almas humanas;

Cruz de Alcântara ( nas costas, todo o centro)- Obviamente uma homenagem à família, simbolo forte e vincado em mim através da tinta, debaixo da pele...

Por agora é tudo... em breve pode haver mais.

sábado, novembro 03, 2012

Ignis Natura


Noite fria e carregada de névoa que congela o ser,
Os sons nocturnos enchem o anfiteatro da serra sagrada,
Mãe do mundo, Mãe dos homens ancestrais, Deusa de deuses menores
há muito perdidos na intemporalidade do espaço profano, apenas lembrados por poucos resistentes, uns quantos tomados por loucos, ou apenas "excêntricos" que teimam em prestar homenagem aos idos, aos mortos despojados de vida material, mas tão presentes neste circulo negro iluminado de velas titubeantes, marcado com o sangue virginal do sacrifício supremo, da morte que teima ser vida, da ode ao renascer, dos cânticos de êxtase e luxúria que se desembargam de gargantas viciadas em sumo pontifício de prazer e dor...
A serra sagrada espera por nós, a noite acolhe-nos a alma cansada, farta de sofrer, ansiosa por uma nova era. O monte das serpentes é nosso!
Ophiusa retorna o seu esplendor, a sua magia antiga e incompreendida.
Devotos do desespero, amantes do atroz, todos caminham em silêncio por entre a penumbra confortante da Mãe, para a caverna-utero onde nos apaziguamos enfim...
 
Salve Natura, Salve Ignis, ressurge do fogo libertador e voa... Ibis ocidental.